sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Quem faz o espetáculo nos bastidores

Trabalhos como produção e assessoria de imprensa se destacam na música regional


Nativismo sempre esteve relacionado aos homens. A música trata de temas comuns ao homem campeiro; fala da sua querência, de seus cavalos e também de seus amores. Trazer este cenário ao palco dos festivais era praticamente exclusividade dos intérpretes e compositores masculinos, já que grande parte do conteúdo reportava ao cotidiano desses homens de campo. Algumas exceções existiam, como Oristela Alves, Maria Luíza Benitez, Analise Severo, Fátima Gimenez, Loma, etc.

Com a presença constante das temáticas livres, mais abertas, que não precisam ter a preocupação de abordar o campo e suas peculiaridades, o nativismo atual aumentou o espaço das mulheres como intérpretes e compositoras. É o caso de Shana Müller, que ganhou destaque nos festivais como intérprete, além de várias premiações que a tornaram referência na área. Além dela, outras cantoras têm participado neste meio, apesar de atuações discretas. Ainda podemos destacar instrumentistas talentosas, como a violinista Clarissa Ferreira que teve a oportunidade de demonstrar como um violino pode abrilhantar esse tipo de trabalho.

Também não podemos esquecer daquelas que trabalham nos bastidores, atrás do palco, no auxílio daqueles que fazem o espetáculo. E, para surpresa de muitos, elas são muitas. Aline Ribas, produtora da dupla Robledo Martins e Rui Carlos Ávila é um exemplo de como as mulheres podem contribuir de forma muito positiva para o nativismo. Outro grande exemplo é a produtora Mariana Ferreira, que trabalha com grandes músicos como Luíz Marenco, Aluísio Rochemback e outros. Ela falou ao De terra, campo e galpão sobre a sua profissão, como é este trabalho e o seu gosto pelo ofício. Também entrevistamos a assessora de comunicação da dupla César Oliveira e Rogério Melo, Mariana Pires, que retrata como são as relações profissionais desses que são o grande suporte ao artista e que trabalham atrás das cortinas. Veja a entrevista:


Por João Cléber Caramez


1- Como tu vê a participação das mulheres no meio nativista hoje, em relação à anos atrás?


Mariana Pires - Não faz muitos anos (mais especificamente seis anos) que estou envolvida com o mercado da música regional, então não posso fazer um retrospecto baseado na minha experiência pessoal. No entanto, este meio, tal como um reflexo da sociedade, impõe constantes desafios às mulheres que nele trabalham. Acredito que as mulheres tenham que fazer um esforço maior e lutar muito mais para conseguir o mesmo respeito profissional dedicado de maneira extensiva aos homens.


Mariana Ferreira - Não tenho muito conhecimento de como as coisas funcionavam antes, mas acredito que hoje, como em todas as áreas, o trabalho feminino vem ganhando seu espaço. A profissionalização da mulher é crescente e por isso estamos “aparecendo” mais.


2- Qual é a importância do trabalho desenvolvido por um produtor?


Mariana Pires - Acho importante explicar que minha principal atividade na De Fronteira Produções está relacionada à Assessoria de Imprensa e Comunicação. Neste sentido, atendo todas as mídias que interagem conosco e faço o planejamento e execução das atividades de marketing/comunicação de César Oliveira e Rogério Melo. Aliado a isso, também atuo como produtora executiva, um trabalho que consiste basicamente em organizar as atividades e demandas da carreira do artista. Outras pessoas também participam do trabalho de produção em nosso escritório: Pierre da Luz, diretor comercial, e Cesar Dutra, que faz a frente de produção nas viagens. Ou seja, a produção em nossa empresa é feita por uma equipe de pessoas que se completam trabalhando em segmentos diferentes.


Mariana Ferreira - Somos responsáveis por boa parte do sucesso de nossos artistas. É preciso ter muita cautela, dedicação, envolvimento e principalmente acreditar nas pessoas e no trabalho que você esta representando. Um artista não vive sem um produtor, e vice – versa.


3- Esse trabalho é reconhecido pelas pessoas ou é mais de bastidores?


Mariana Pires - De um modo geral, o trabalho de quem produz aparece apenas para quem freqüenta os bastidores. O público muitas vezes não faz idéia da estrutura que existe por trás do artista, mas todos aqueles que são profissionais do meio estão habituados a esta dinâmica.


Mariana Ferreira - Não muito, mas a quem importa é bem visto. Na verdade um produtor não deve mesmo aparecer e sim fazer com seu artista, conseqüentemente seu trabalho, seja visto e reconhecido por todos.


4- Porque essa função tem sido desempenhada, mais constantemente, por mulheres?


Mariana Pires - É difícil pensar em um único motivo para isso. Acho que existem múltiplos fatores. Primeiramente, percebo que muitas das mulheres que atuam como produtoras são as esposas dos músicos, o que, me parece, ocorre por duas razões: para evitar uma superexposição do artista no dia-a-dia das negociações e do atendimento a diversos públicos; e um segundo motivo seria um conflito algumas vezes existente entre a “alma de artista” e a necessidade de administrar e tomar decisões práticas. Existem exceções, evidentemente, como o próprio caso do César e do Rogério que sempre conduziram a administração de sua carreira, mas, em grande parte, percebo que os músicos, os artistas, têm dificuldades neste sentido e suas mulheres desempenham as atividades de produção.

Evidentemente, também existem no meio várias profissionais que construíram sua trajetória trabalhando com diferentes artistas de maneira independente. Mas não creio que possa afirmar que função tem sido desempenhada mais constantemente por mulheres, pois existem inúmeros homens que são produtores e/ou empresários e ocupam um espaço destacado.


Mariana Ferreira - Acho que não tem nenhum dom ou uma característica especifica que destaque a atuação feminina, é na verdade um crescente mundial. Como a mulher gosta de se comunicar este é um trabalho que nos traz grande satisfação, pelo menos para mim é assim que acontece.


5- Tu achas que o nativismo é ainda muito restrito às mulheres ou isso é mito?


Mariana Pires - Certamente não é mito, pelo menos no que se refere à música. A quantidade de artistas mulheres, sejam instrumentistas ou cantoras, é infinitamente menor que a de homens. Há também pouca renovação das artistas mulheres, poucos nomes de expressão surgiram nos últimos anos, como é o caso da Shana Müller, por exemplo. A maior parte dos nomes que pensamos quando se trata de artistas mulheres são os há vários anos - como Fátima Gimenez, Maria Lúcia Benitez, Berenice Azambuja - artistas que talentosamente seguem sendo referência.


Mariana Ferreira - Talvez seja restrito porque as mulheres ainda não tenham despertaram para isso, não vejo nenhum bloqueio. Sou sempre muito bem recebida e respeitada por todos, homens e mulheres. Lembrando que respeito é algo que cada um conquista e impõe. Se você respeitar, será respeitado.


6- Tu gostas de exercer essa função? Qual é a maior recompensa nesse trabalho?


Mariana Pires - Gosto muito do que faço. Muito mesmo. Este trabalho recompensa a gente continuamente a cada aplauso do público, a cada lançamento de CD, a cada espaço conquistado na mídia; porque sabemos que pudemos colaborar ao menos um pouquinho para o êxito do artista. Ao longo dos anos, trabalhei com inúmeros nomes, seja como produtora do Instituto Estadual de Música, seja como divulgadora da Gravadora ACIT, e sempre tive um retorno positivo do trabalho, mas esta etapa junto a De Fronteira Produções tem sido especialmente gratificante pelo nível de profissionalismo de todos, pela excelente estrutura que dá suporte ao trabalho e principalmente, pelo talento de César e do Rogério, que é expresso não só musicalmente, mas no trato com as pessoas, na administração da carreira, no planejamento de marketing, etc.


Mariana Ferreira - Sim, e muito. Saber que seu produto, no meu caso, os artistas com quem trabalho, são reconhecidos e suas carreiras em um caminho correto e estruturado é a maior recompensa que podemos esperar.


7- Qual é a importância dos meios de comunicação (internet, rádio, etc) para o sucesso de um produtor?


Mariana Pires - São absolutamente fundamentais. Desde que a comunicação social passou a mediar a sociedade é que os artistas ganharam maior visibilidade e notoriedade. Ter algum tipo de media trainning é indispensável para todos aqueles que trabalham como produtores, pois divulgar o artista e fazer com os que os espaços da mídia sejam ocupados da maneira mais adequada e proveitosa possível é uma tarefa da área de produção. Hoje, mais do que nunca, a divulgação – amparada por uma relação fluída e saudável com os veículos de comunicação – é uma ferramenta estratégica de extrema valia.


Mariana Ferreira - Importantíssimos, eu mesmo utilizo muito a internet para ficar informada, tirar duvidas e divulgar meus artistas. Tudo o que tiver como base a informação é fundamental para qualquer tipo de trabalho, principalmente para o nosso.


8- Como é a tua relação com outros produtores?


Mariana Pires - Muito boa. Só não é mais próxima pela falta de tempo que a correria do trabalho nos impõe.


Mariana Ferreira - Sou produtora de Luiz Marenco e Aluisio Rockembach. Nossa relação é fundamentalmente aberta e de muita confiança, pois sou eu quem mostra e divulga a todas as pessoas a maneira como eles devem ser vistos e a qualidade de seus trabalhos.


9- Deixe um recado final.

Mariana Pires - Meu recado se destina aquelas pessoas que tem interesse em trabalhar na área de eventos: ao contrário do que muitos erroneamente pensam, este trabalho requer tanta dedicação e tanta seriedade em sua execução quanto qualquer outro. Ou seja, não dá para confundir o ambiente festivo no qual muitas vezes trabalhamos com o trabalho. Profissionalismo, conduta adequada e atitudes sérias são pilares do qualquer atividade profissional, e este meio não se foge a regra.

Mariana Ferreira - Mensagens não são o meu forte, mas gosto muito destes dizeres de Raul Seixas e acho que simplifica bem o papel do produtor com seu artista... “ Um sonho que se sonha só, é só um sonho, mas o sonho que se sonha junto é realidade” ...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Mais indicações ao Prêmio Grammy Latino

Ainda neste ano, tivemos a alegria de ver o grupo catarinense Pátria Sulina na disputa de um prêmio internacional. Veja matéria publicada por ZH em 28 de agosto.
Nativismo lageano disputa o Grammy Latino
Pátria Sulina concorre a uma indicação ao prêmio internacional com o seu segundo CD, Campanha, lançado em agosto de 2008

A música de Santa Catarina pode ser reconhecida neste ano como uma das melhores do mundo. Pela primeira vez, o Estado terá um representante no Grammy Latino que, a exemplo do Oscar para o cinema, premia os talentos musicais e os projeta para o planeta inteiro.Quem defende a bandeira catarinense no concurso internacional é o Pátria Sulina, de Lages. Fundado em 14 de outubro de 2004, o grupo apresenta canções nativistas que falam da terra, da natureza, da lida campeira, do tropeirismo, da história, da família, de Deus e do homem como ser que evolui para realizar boas ações durante a vida.
A ideia de montar o grupo partiu de seu fundador, Adriano Posai, de 31 anos, que há 20 tem uma ligação direta com o tradicionalismo, desde que dançava num Centro de Tradições Gaúchas (CTG).Em quase cinco anos de história, o Pátria Sulina gravou dois CDs. O primeiro, intitulado Com a força livre do Sul, foi lançado em 2006. O segundo, Campanha, saiu em agosto do ano passado.E foi este trabalho que chegou aos ouvidos dos organizadores do Grammy Latino. O álbum conta com as participações especiais de “mestres” da canção nativa, como Luiz Marenco, Nilton Ferreira, Marcelo Oliveira, Pedro Jr. da Fontoura, Bento Ventura e, uma mais especial ainda, a filha de Adriano Posai, a pequena Ana Maria Barbosa Posai.
Com apenas seis anos de idade, ela gravou com o pai a bela Ciclo Eterno, com letra e música de Emerson Goulart, e que fala do amor entre as gerações de uma mesma família. Adriano e Ana Maria emocionaram o público na 8ª Sapecada da Serra Catarinense, evento paralelo à 16ª Sapecada da Canção Nativa, durante a 20ª Festa Nacional do Pinhão, no ano passado. A canção não foi a vencedora, mas integra o CD duplo com as 32 melhores músicas do festival que é um dos principais do mundo no gênero.– Até eu me emociono quando canto Ciclo Eterno com a minha filha. É, sem dúvidas, um dos pontos fortes do nosso trabalho – diz Adriano.
A vaga do Pátria Sulina ao Grammy Latino surgiu quando a organização do prêmio solicitou à Gravadora Vertical, de Caxias do Sul (RS), que indicasse quatro trabalhos na linha regional, que no ano passado teve a dupla Chitãozinho e Xororó em primeiro lugar. Dos quatro indicados pela Vertical, três são do Rio Grande do Sul e um de Santa Catarina, o Pátria Sulina. Tanto o grupo como a gravadora sabem apenas que o álbum Campanha está sendo rigorosamente avaliado no que se refere à obra como um todo, do histórico do material aos arranjos e às fotos. No caso do Pátria Sulina, as fotos do CD foram feitas na Fazenda Cajuru, na região da Coxilha Rica, em Lages, por onde passaram, há 300 anos, inúmeras tropas que eram levadas do Sul ao Sudeste do Brasil. Construída em 1865, a fazenda está tombada como patrimônio histórico de Santa Catarina.– Nos telefonaram para dizer que estamos concorrendo e para pedir alguns dados, mas não deram detalhes de como está a avaliação dos trabalhos e nem mesmo quando será a entrega dos prêmios, o que deve ocorrer até o fim do ano. Mas independente de qualquer resultado, já somos vencedores, pois é um fato histórico para Santa Catarina, e vai proporcionar que a música do nosso Estado passe a ser referência no Brasil e no mundo – conclui Adriano Posai.
Agora, temos a indicação de mais um grupo em uma categoria específica do Grammy Latino. Veja na matéria de Giovani Grizotti, no seu blog Roda de Chimarrão:
Os Serranos na final do Grammy Latino
É com muito orgulho que o blog anuncia: o grupo Os Serranos é finalista na categoria "Best Native Brazilian Roots" (em tradução livre, melhor álgum de música nativa de raiz) ao Grammy Latino. A indicação é pelo álgum 40 Anos, Sempre Gaúchos, que foi gravado ao vivo no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre.
Embora não seja de música de raiz, o grupo Tchê Guri também concorre na mesma categoria pelo álbum "A Festa", juntamente com o cantor sertanejo Daniel, a banda do Mato Grosso do Sul Tradição e o cantor Mazinho Quevedo.
O feito é inédito para a música gauchesca, uma vez que o Grammy é um dos principais prêmios da música mundial. Embora não concorra na categoria internacional (a categoria na qual Os Serranos e Tchê Guri concorrem foi criada especialmente para o Brasil), esses músicos gaúchos tem motivos de sobra para comemorar. Parabéns tchê!

Sepé Tiaraju, herói da pátria brasileira

Por Alcy Cheuiche*

A primeira boa notícia nos veio no dia 15 de julho de 1608. O rei de Espanha, Felipe III, enviava carta ao governador do Paraguai, Hernandarias de Saavedra, exigindo que os 150 mil índios do Guaíra (atual território do nosso Estado do Paraná) só fossem submetidos “pelos ensinamentos do Evangelho”. Um basta à carnificina que campeava, há mais de um século, em toda a América espanhola. Em consequência disso, foram enviados em missão de paz os padres jesuítas italianos Giuseppe Cataldino e Simon Maceta, os fundadores da primeira redução de índios guaranis, chamada Loreto, em 1610.Às vésperas de comemorarmos os 400 anos do início dessa epopeia, embrião da República Guarani, à qual pertenceram os nossos Sete Povos das Missões, chega de Brasília a segunda boa notícia. O vice-presidente, José Alencar, acaba de sancionar a lei do deputado gaúcho Marco Maia que “inscreve o nome de Sepé Tiaraju no Livro dos Heróis da Pátria”, que fica no Panteão da Liberdade e da Democracia, na Praça dos Três Poderes. E isto, três anos depois de nossa Assembleia Legislativa ter aprovado, e o governador Germano Rigotto sancionado, a lei proposta pelo deputado Sérgio Görgen que reconheceu Sepé Tiaraju como “herói rio-grandense”, nos 250 anos de sua morte.Sepé Tiaraju morreu de lança em punho, no entardecer do dia 7 de fevereiro de 1756, lutando contra soldados espanhóis e portugueses que haviam invadido o território da República Guarani. O local, hoje no perímetro urbano da cidade de São Gabriel, à margem esquerda do Rio Vacacaí, tornou-se lugar de visita obrigatória para todos aqueles que reconhecem a legitimidade da luta dos nossos índios em defesa das suas famílias, dos seus campos e gados, das lavouras de trigo e algodão, das casas e igrejas, daquele sistema socialista cristão de vida em comum, que Voltaire classificou como “um verdadeiro triunfo da humanidade”.E, não por outra razão, a Unesco reconheceu, há cerca de 20 anos, as ruínas de São Miguel Arcanjo como “Patrimônio da Humanidade”. Não apenas um patrimônio de velhas pedras talhadas pelos índios missioneiros, mas, sim, o patrimônio das ideias de justiça social, de respeito às diferenças raciais, de louvor àquele oásis de vida digna em meio ao genocídio de todo o povo pré-colombiano das três Américas.Prefeito de São Miguel Arcanjo, eleito pelo voto de seus concidadãos, Sepé Tiaraju enfrentou legitimamente os invasores portugueses e espanhóis daquele rico território. Três dias depois da sua morte, 1,5 mil índios armados de lanças e poucos arcabuzes, sob o comando de Nicolau Nhenguiru, foram dizimados a tiros de canhão na chamada “batalha” de Caiboaté. Estava aberto o caminho para a destruição dos Sete Povos das Missões, uma utopia de liberdade, igualdade e fraternidade que nunca mais existiu entre nós.

* escritor
*Fonte: ZH - zerohora.com

Sepé Tiarajú no panteão dos heróis do Brasil

Celebrado no Rio Grande do Sul, Sepé Tiarajú agora é herói nacional. Lei sancionada pelo presidente em exercício José Alencar coloca o índio missioneiro no mesmo patamar em que estão personalidades como Tiradentes, Santos Dumont e Zumbi dos Palmares.Oprojeto que transformou Sepé em herói é de autoria do deputado federal Marco Maia (PT). A partir de agora o nome do guarani passa, por lei, a figurar no Livro dos Heróis da Pátria.– Chegou a vez de prestarmos o devido reconhecimento à história de coragem e de luta pela direito à terra de nosso herói Sepé Tiaraju – afirmou o deputado.José Tiaraju era corregedor da Redução Jesuítica de São Miguel – uma espécie de prefeito. Em 1750, os reinos de Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, obrigando cerca de 50 mil índios cristãos a abandonar suas cidades, igrejas, lavouras, fazendas, gado e terras nas Missões. Insurgindo-se contra esse tratado, Sepé Tiaraju liderou a resistência dos índios guaranis.– Esta terra tem dono – teria dito, segundo a tradição.Sepé Tiaraju tombou em combate no dia 7 de fevereiro de 1756, enfrentando tropas portuguesas e espanholas em Batovi, hoje município de São Gabriel.Três dias depois, 1,5 mil índios foram trucidados na batalha do Caiboaté. O povo do Rio Grande do Sul, por conta própria, viu no herói missioneiro um santo, São Sepé, que virou até nome de cidade.
*Fonte: ZH - zerohora.com

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Canto com a vivência da fronteira

O cantor Juliano Moreno concedeu uma entrevista na manhã de sexta - feira, antes de pegar a estrada rumo a Caxias do Sul. Depois de um belo show, destacou alguns pontos que observou na sua passagem por Santa Cruz do Sul, como o grande respeito das pessoas pelas tradições, pelo crescimento do sentimento gaúcho na Semana Farroupilha e a boa organização da comissão, além da receptividade do público ao seu trabalho. Então, vamos conferir:

Por João Cléber Caramez

Como tu avalias o show, a receptividade do público de Santa Cruz do Sul? Já tinhas se apresentado na cidade?
Nós já estivemos disputando o Enart e também em outras oportunidades. Me sinto honrado por ter participado dessa Semana Farroupilha aqui, no Parque da Oktoberfest, onde mostramos um pouco de nosso trabalho com temas diferenciados que falam da fronteira, um pouco do folclore latino – americano também, coisas que para o público daqui talvez seja novidade e por isso, acredito que essa é uma das virtudes do canto: mostrar coisas novas. Ainda tem uma questão de responsabilidade social em cima disso, trazendo para quem não conhece, alguns clássicos da América Latina e também do nativismo gaúcho, músicas estas que gostamos, ouvimos, ou seja, apreciamos tanto de forma tão demasiada, principalmente por nós que moramos na fronteira e temos essa influência e podemos ter essa vivência de fronteira através da música.




Tu participaste da Manoca, dias atrás, também da Nevada da Canção. Quais são os próximos festivais que estão na mira? Tu falaste do teu novo trabalho, que está para ser lançado no final do ano. Como estão os teus projetos, como vai ser esse terceiro CD?
Graças as Deus estão bem encaminhados, temos festivais pela frente como a Coxilha Nativista, de Cruz Alta onde já estamos classificados, também tem a Vigília, de Cachoeira do Sul, onde também temos música classificada. O projeto do disco novo está em andamento, na fase de produção do projeto onde analisamos o repertório, músicos para as gravações e como costumo dizer, essa analise é tudo. Por isso, deve ser feito com calma, estamos junto com aqueles que me dão assessoria, para fazer um bom trabalho, resgatar as músicas premiadas no principais festivais, que são pouco divulgadas, não chega até as rádios, aos programas nativistas e muitas pessoas não tem acesso. A organização do festival deve se empenhar para divulgar esse trabalho quando é lançado. Poucos festivais mandam o CD para o próprio músico que disputou. Cito como exemplo o Canto Missioneiro, de Santo Ângelo onde tem um compromisso com a gente, mandam o CD, o que pode ser um espelho para outros, porque nós mesmos fazemos a distribuição para os radialistas conhecidos, já que é uma honra para nós que eles toquem a nossa música. Para isso, quero fazer um resgate dessas músicas dos festivais para que mais pessoas possam conhecer o nosso trabalho.


Vamos falar um pouco do teu grupo, esses músicos que te acompanham. Tem outros que tocam contigo? A formação é sempre essa, fala um pouco sobre isso para nós?
Como eu disse no show, ontem: essa gurizada vale ouro! Nesse meio da música nós temos que estar cercados de amigos. Graças a Deus, tenho muitos amigos e os melhores, estão nesse meio, onde nos encontramos quase todos os finais de semana e procuramos fazer daquilo a extensão da casa de cada um. Eu me sinto grato em tocar com o Marcelo Holmos, com o Glauber Moreira, do contrabaixo e também com o Inseto (Marcelo Nunes) e também com a companhia do amigo Márcio Rodrigues, poeta de Livramento, que inclusive tocou comigo na Manoca. Improvisamos o grupo para esse show, já que temos vários espetáculos rodando pelo estado e temos músicos que estão tocando com outros intérpretes. Então, achamos meios para mesclar que ficasse bom para todos, que ninguém perdesse em qualidade. Um ajuda o outro, pela amizade é que fico grato de poder tocar com meus grandes amigos lá de Livramento, pessoas que nunca me deixaram mal e sempre me apoiaram.





Quais são as principais diferenças do sentimento das pessoas na fronteira pela música nativista e outras questões do gênero em relação a outros lugares, como aqui na região?
Não querendo ser bairrista, mas moramos em um lugar privilegiado em termos de tradição gaúcha. A gente faz com que o povo sinta a tradição. Livramento tem o maior desfile na Semana Farroupilha, são quase 8 mil cavaleiros. As pessoas vivem a Semana Farroupilha e também durante todo o ano, temos vários eventos como os 5 festivais internos e ainda o Martin Fierro. A Penca, um desses festivais locais, do qual sou presidente, tem a função de revelar novos talentos. Desse festival, surgiram Anomar Danúbio Vieira, Leôncio Severo, Volmir Coelho e tantos outros. Tenho orgulho de dar segmento a esse projeto, estamos na sétima edição, a música que ganhou esse ano estará no palco antes das concorrentes do Martin Fierro. Então, o povo de Livramento tem a essência, minha família sempre participou do CTG Presilha do Pago, pelo qual concorri vários concursos, meu pai é patrão há 23 anos e ficamos orgulhosos de ver Santa Cruz mudar sua mentalidade, vivenciando esse sentimento do que é ser gaúcho. Ontem, tivemos a prova já que pessoal dançou, aplaudiu, estavam todos pilchados, o que raro hoje em dia e o que mais chamou atenção é que sem pilcha, não dançava. A cidade está de parabéns, um belo evento e espero retornar várias vezes, sempre com o compromisso e tendo a credibilidade para a realização desses eventos.

Antes de pegar a estrada, deixe um chasque para nós que ficamos.
Só tenho a agradecer, sempre fui bem recebido aqui. Participei da 1ª Manoca, agora voltei na 4ª edição. Me lembro que foi dos meus primeiros festivais, fui recebido pela família do Sérgio Sodré Pereira, que deu início ao ciclo da Manoca. Fico contente, deixo meu agradecimento a todo o povo, para que tudo dê certo e que realizem um ótimo final da Semana Farroupilha.

Ouça aqui: A vida é uma doma, a doma é uma vida, Chamarriteiro e Loco de bem de bem






Ao som de gaita e floreios

Santa Cruz do Sul recebe atrações especiais em sua semana farroupilha

Dois espetáculos realizados no pavilhão 3, do parque da Oktoberfest, foram destaque na programação da Semana Farroupilha em Santa Cruz do Sul. Na noite chuvosa de quinta – feira, Juliano Moreno trouxe ao palco seu show denominado “Sul América”. Com repertório variado, que mescla canções próprias e releituras de grandes clássicos da música gaúcha e também do folclore latino – americano, o cantor fronteiriço dividiu o palco com o melhor instrumentista da 4ª Manoca do Canto Gaúcho, o gaiteiro Marcelo Nunes, também com o violonista Marcelo Holmos e ainda contou com Mauber Moreira no baixo.

Juliano Moreno foi o destaque da quinta - feira

Pudemos conferir composições de Noel Guarany, Elton Saldanha e Leonel Gomez, entre outros compositores. Também foram trazidas ao público presente, canções do seu trabalho ao lado de João Sampaio, do seu segundo CD “Debaixo da mesma sombra”. Outras músicas mais antigas também não deixaram de fazer parte do repertório. O show ainda contou com composições de Transito Cocomarolla e Teresa Parodi, de quem Juliano Moreno revela ser grande admirador. Marcelo “Inseto” Nunes foi um destaque, provando porque foi premiado na Manoca e na melhor definição de Diego Moura, “parece que ele entra para dentro da gaita”. Juliano adiantou que “em breve lança um novo CD, com previsão para o final do ano, chamado de Fronteira da alma.


Raineri Spohr mostrou seu talento ao público de Santa Cruz

Tiago Abib, jurado da Manoca, deu show na gaita

No sábado, a apresentação de Raineri Spohr também deixou o público entusiasmado com as canções do seu primeiro CD “Por campo e galpões” e ainda outras composições dos festivais, como as participantes da Manoca, No sul do meu país e Guitarreiro. A vencedora da Nevada, Que pecado, parceiro também não ficou de fora. Tivemos outros sucessos como Baeta colorada e Despachando ao trote largo. Para acompanhar, músicos de qualidade subiram ao palco. Tiago Abib, com seu gaita; Gustavo Oliveira, no violão e ainda Carlos de Césaro no baixo. Raineri Spohr não dispensou seu violão, além da grande interpretação que já lhe rendeu premiações nos palcos do estado.


Gustavo Oliveira também fez bonito no palco

Carlos de Césaro concentrado no contrabaixo


Outros shows também foram destaque no evento. Os Urutaus se apresentaram noite de sexta – feira, com um espetáculo muito peculiar que tem como ponto forte as interpretações de Raúl Unfer nas músicas folclóricas e releituras missioneiras. Grandes admiradores de Atahualpa Yupanqui, Pedro Ortaça, José Cláudio Machado e tantos outros, Raul e seu violonista Eduardo Metzger receberam muitos elogios por esta diferenciação musical e ainda por serem da terra, já que levam o nome da cidade em suas apresentações. O último espetáculo neste domingo ficou a cargo de Juliano Javoski e Grupo Che Alma Guarani, com os músicos Wilson Vargas e Eduardo Loppes. Cantor de longa trajetória, explora em sua musicalidade os elementos da música latino – americana.


Juliano Javoski trouxe ao palco suas boas composições

Ainda neste ano, será lançado um disco com chamamés, onde será feita uma grande releitura do ritmo, com influências de suas participações em festivais da Argentina. Nos palcos dos grandes festivais, Javoski traz composições de qualidade que trazem temas como tropeadas, lida campeira e outros pontos da vida do gaúcho, que teve aprovação do público através de muitos aplausos. A Manoca também recebeu alguns temas do cantor, ao longo das suas quatro edições.


Eduardo Loppes já é destaque nos palcos dos festivais