Por Alcy Cheuiche*
A primeira boa notícia nos veio no dia 15 de julho de 1608. O rei de Espanha, Felipe III, enviava carta ao governador do Paraguai, Hernandarias de Saavedra, exigindo que os 150 mil índios do Guaíra (atual território do nosso Estado do Paraná) só fossem submetidos “pelos ensinamentos do Evangelho”. Um basta à carnificina que campeava, há mais de um século, em toda a América espanhola. Em consequência disso, foram enviados em missão de paz os padres jesuítas italianos Giuseppe Cataldino e Simon Maceta, os fundadores da primeira redução de índios guaranis, chamada Loreto, em 1610.Às vésperas de comemorarmos os 400 anos do início dessa epopeia, embrião da República Guarani, à qual pertenceram os nossos Sete Povos das Missões, chega de Brasília a segunda boa notícia. O vice-presidente, José Alencar, acaba de sancionar a lei do deputado gaúcho Marco Maia que “inscreve o nome de Sepé Tiaraju no Livro dos Heróis da Pátria”, que fica no Panteão da Liberdade e da Democracia, na Praça dos Três Poderes. E isto, três anos depois de nossa Assembleia Legislativa ter aprovado, e o governador Germano Rigotto sancionado, a lei proposta pelo deputado Sérgio Görgen que reconheceu Sepé Tiaraju como “herói rio-grandense”, nos 250 anos de sua morte.Sepé Tiaraju morreu de lança em punho, no entardecer do dia 7 de fevereiro de 1756, lutando contra soldados espanhóis e portugueses que haviam invadido o território da República Guarani. O local, hoje no perímetro urbano da cidade de São Gabriel, à margem esquerda do Rio Vacacaí, tornou-se lugar de visita obrigatória para todos aqueles que reconhecem a legitimidade da luta dos nossos índios em defesa das suas famílias, dos seus campos e gados, das lavouras de trigo e algodão, das casas e igrejas, daquele sistema socialista cristão de vida em comum, que Voltaire classificou como “um verdadeiro triunfo da humanidade”.E, não por outra razão, a Unesco reconheceu, há cerca de 20 anos, as ruínas de São Miguel Arcanjo como “Patrimônio da Humanidade”. Não apenas um patrimônio de velhas pedras talhadas pelos índios missioneiros, mas, sim, o patrimônio das ideias de justiça social, de respeito às diferenças raciais, de louvor àquele oásis de vida digna em meio ao genocídio de todo o povo pré-colombiano das três Américas.Prefeito de São Miguel Arcanjo, eleito pelo voto de seus concidadãos, Sepé Tiaraju enfrentou legitimamente os invasores portugueses e espanhóis daquele rico território. Três dias depois da sua morte, 1,5 mil índios armados de lanças e poucos arcabuzes, sob o comando de Nicolau Nhenguiru, foram dizimados a tiros de canhão na chamada “batalha” de Caiboaté. Estava aberto o caminho para a destruição dos Sete Povos das Missões, uma utopia de liberdade, igualdade e fraternidade que nunca mais existiu entre nós.
A primeira boa notícia nos veio no dia 15 de julho de 1608. O rei de Espanha, Felipe III, enviava carta ao governador do Paraguai, Hernandarias de Saavedra, exigindo que os 150 mil índios do Guaíra (atual território do nosso Estado do Paraná) só fossem submetidos “pelos ensinamentos do Evangelho”. Um basta à carnificina que campeava, há mais de um século, em toda a América espanhola. Em consequência disso, foram enviados em missão de paz os padres jesuítas italianos Giuseppe Cataldino e Simon Maceta, os fundadores da primeira redução de índios guaranis, chamada Loreto, em 1610.Às vésperas de comemorarmos os 400 anos do início dessa epopeia, embrião da República Guarani, à qual pertenceram os nossos Sete Povos das Missões, chega de Brasília a segunda boa notícia. O vice-presidente, José Alencar, acaba de sancionar a lei do deputado gaúcho Marco Maia que “inscreve o nome de Sepé Tiaraju no Livro dos Heróis da Pátria”, que fica no Panteão da Liberdade e da Democracia, na Praça dos Três Poderes. E isto, três anos depois de nossa Assembleia Legislativa ter aprovado, e o governador Germano Rigotto sancionado, a lei proposta pelo deputado Sérgio Görgen que reconheceu Sepé Tiaraju como “herói rio-grandense”, nos 250 anos de sua morte.Sepé Tiaraju morreu de lança em punho, no entardecer do dia 7 de fevereiro de 1756, lutando contra soldados espanhóis e portugueses que haviam invadido o território da República Guarani. O local, hoje no perímetro urbano da cidade de São Gabriel, à margem esquerda do Rio Vacacaí, tornou-se lugar de visita obrigatória para todos aqueles que reconhecem a legitimidade da luta dos nossos índios em defesa das suas famílias, dos seus campos e gados, das lavouras de trigo e algodão, das casas e igrejas, daquele sistema socialista cristão de vida em comum, que Voltaire classificou como “um verdadeiro triunfo da humanidade”.E, não por outra razão, a Unesco reconheceu, há cerca de 20 anos, as ruínas de São Miguel Arcanjo como “Patrimônio da Humanidade”. Não apenas um patrimônio de velhas pedras talhadas pelos índios missioneiros, mas, sim, o patrimônio das ideias de justiça social, de respeito às diferenças raciais, de louvor àquele oásis de vida digna em meio ao genocídio de todo o povo pré-colombiano das três Américas.Prefeito de São Miguel Arcanjo, eleito pelo voto de seus concidadãos, Sepé Tiaraju enfrentou legitimamente os invasores portugueses e espanhóis daquele rico território. Três dias depois da sua morte, 1,5 mil índios armados de lanças e poucos arcabuzes, sob o comando de Nicolau Nhenguiru, foram dizimados a tiros de canhão na chamada “batalha” de Caiboaté. Estava aberto o caminho para a destruição dos Sete Povos das Missões, uma utopia de liberdade, igualdade e fraternidade que nunca mais existiu entre nós.
* escritor
*Fonte: ZH - zerohora.com
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