sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Quem faz o espetáculo nos bastidores

Trabalhos como produção e assessoria de imprensa se destacam na música regional


Nativismo sempre esteve relacionado aos homens. A música trata de temas comuns ao homem campeiro; fala da sua querência, de seus cavalos e também de seus amores. Trazer este cenário ao palco dos festivais era praticamente exclusividade dos intérpretes e compositores masculinos, já que grande parte do conteúdo reportava ao cotidiano desses homens de campo. Algumas exceções existiam, como Oristela Alves, Maria Luíza Benitez, Analise Severo, Fátima Gimenez, Loma, etc.

Com a presença constante das temáticas livres, mais abertas, que não precisam ter a preocupação de abordar o campo e suas peculiaridades, o nativismo atual aumentou o espaço das mulheres como intérpretes e compositoras. É o caso de Shana Müller, que ganhou destaque nos festivais como intérprete, além de várias premiações que a tornaram referência na área. Além dela, outras cantoras têm participado neste meio, apesar de atuações discretas. Ainda podemos destacar instrumentistas talentosas, como a violinista Clarissa Ferreira que teve a oportunidade de demonstrar como um violino pode abrilhantar esse tipo de trabalho.

Também não podemos esquecer daquelas que trabalham nos bastidores, atrás do palco, no auxílio daqueles que fazem o espetáculo. E, para surpresa de muitos, elas são muitas. Aline Ribas, produtora da dupla Robledo Martins e Rui Carlos Ávila é um exemplo de como as mulheres podem contribuir de forma muito positiva para o nativismo. Outro grande exemplo é a produtora Mariana Ferreira, que trabalha com grandes músicos como Luíz Marenco, Aluísio Rochemback e outros. Ela falou ao De terra, campo e galpão sobre a sua profissão, como é este trabalho e o seu gosto pelo ofício. Também entrevistamos a assessora de comunicação da dupla César Oliveira e Rogério Melo, Mariana Pires, que retrata como são as relações profissionais desses que são o grande suporte ao artista e que trabalham atrás das cortinas. Veja a entrevista:


Por João Cléber Caramez


1- Como tu vê a participação das mulheres no meio nativista hoje, em relação à anos atrás?


Mariana Pires - Não faz muitos anos (mais especificamente seis anos) que estou envolvida com o mercado da música regional, então não posso fazer um retrospecto baseado na minha experiência pessoal. No entanto, este meio, tal como um reflexo da sociedade, impõe constantes desafios às mulheres que nele trabalham. Acredito que as mulheres tenham que fazer um esforço maior e lutar muito mais para conseguir o mesmo respeito profissional dedicado de maneira extensiva aos homens.


Mariana Ferreira - Não tenho muito conhecimento de como as coisas funcionavam antes, mas acredito que hoje, como em todas as áreas, o trabalho feminino vem ganhando seu espaço. A profissionalização da mulher é crescente e por isso estamos “aparecendo” mais.


2- Qual é a importância do trabalho desenvolvido por um produtor?


Mariana Pires - Acho importante explicar que minha principal atividade na De Fronteira Produções está relacionada à Assessoria de Imprensa e Comunicação. Neste sentido, atendo todas as mídias que interagem conosco e faço o planejamento e execução das atividades de marketing/comunicação de César Oliveira e Rogério Melo. Aliado a isso, também atuo como produtora executiva, um trabalho que consiste basicamente em organizar as atividades e demandas da carreira do artista. Outras pessoas também participam do trabalho de produção em nosso escritório: Pierre da Luz, diretor comercial, e Cesar Dutra, que faz a frente de produção nas viagens. Ou seja, a produção em nossa empresa é feita por uma equipe de pessoas que se completam trabalhando em segmentos diferentes.


Mariana Ferreira - Somos responsáveis por boa parte do sucesso de nossos artistas. É preciso ter muita cautela, dedicação, envolvimento e principalmente acreditar nas pessoas e no trabalho que você esta representando. Um artista não vive sem um produtor, e vice – versa.


3- Esse trabalho é reconhecido pelas pessoas ou é mais de bastidores?


Mariana Pires - De um modo geral, o trabalho de quem produz aparece apenas para quem freqüenta os bastidores. O público muitas vezes não faz idéia da estrutura que existe por trás do artista, mas todos aqueles que são profissionais do meio estão habituados a esta dinâmica.


Mariana Ferreira - Não muito, mas a quem importa é bem visto. Na verdade um produtor não deve mesmo aparecer e sim fazer com seu artista, conseqüentemente seu trabalho, seja visto e reconhecido por todos.


4- Porque essa função tem sido desempenhada, mais constantemente, por mulheres?


Mariana Pires - É difícil pensar em um único motivo para isso. Acho que existem múltiplos fatores. Primeiramente, percebo que muitas das mulheres que atuam como produtoras são as esposas dos músicos, o que, me parece, ocorre por duas razões: para evitar uma superexposição do artista no dia-a-dia das negociações e do atendimento a diversos públicos; e um segundo motivo seria um conflito algumas vezes existente entre a “alma de artista” e a necessidade de administrar e tomar decisões práticas. Existem exceções, evidentemente, como o próprio caso do César e do Rogério que sempre conduziram a administração de sua carreira, mas, em grande parte, percebo que os músicos, os artistas, têm dificuldades neste sentido e suas mulheres desempenham as atividades de produção.

Evidentemente, também existem no meio várias profissionais que construíram sua trajetória trabalhando com diferentes artistas de maneira independente. Mas não creio que possa afirmar que função tem sido desempenhada mais constantemente por mulheres, pois existem inúmeros homens que são produtores e/ou empresários e ocupam um espaço destacado.


Mariana Ferreira - Acho que não tem nenhum dom ou uma característica especifica que destaque a atuação feminina, é na verdade um crescente mundial. Como a mulher gosta de se comunicar este é um trabalho que nos traz grande satisfação, pelo menos para mim é assim que acontece.


5- Tu achas que o nativismo é ainda muito restrito às mulheres ou isso é mito?


Mariana Pires - Certamente não é mito, pelo menos no que se refere à música. A quantidade de artistas mulheres, sejam instrumentistas ou cantoras, é infinitamente menor que a de homens. Há também pouca renovação das artistas mulheres, poucos nomes de expressão surgiram nos últimos anos, como é o caso da Shana Müller, por exemplo. A maior parte dos nomes que pensamos quando se trata de artistas mulheres são os há vários anos - como Fátima Gimenez, Maria Lúcia Benitez, Berenice Azambuja - artistas que talentosamente seguem sendo referência.


Mariana Ferreira - Talvez seja restrito porque as mulheres ainda não tenham despertaram para isso, não vejo nenhum bloqueio. Sou sempre muito bem recebida e respeitada por todos, homens e mulheres. Lembrando que respeito é algo que cada um conquista e impõe. Se você respeitar, será respeitado.


6- Tu gostas de exercer essa função? Qual é a maior recompensa nesse trabalho?


Mariana Pires - Gosto muito do que faço. Muito mesmo. Este trabalho recompensa a gente continuamente a cada aplauso do público, a cada lançamento de CD, a cada espaço conquistado na mídia; porque sabemos que pudemos colaborar ao menos um pouquinho para o êxito do artista. Ao longo dos anos, trabalhei com inúmeros nomes, seja como produtora do Instituto Estadual de Música, seja como divulgadora da Gravadora ACIT, e sempre tive um retorno positivo do trabalho, mas esta etapa junto a De Fronteira Produções tem sido especialmente gratificante pelo nível de profissionalismo de todos, pela excelente estrutura que dá suporte ao trabalho e principalmente, pelo talento de César e do Rogério, que é expresso não só musicalmente, mas no trato com as pessoas, na administração da carreira, no planejamento de marketing, etc.


Mariana Ferreira - Sim, e muito. Saber que seu produto, no meu caso, os artistas com quem trabalho, são reconhecidos e suas carreiras em um caminho correto e estruturado é a maior recompensa que podemos esperar.


7- Qual é a importância dos meios de comunicação (internet, rádio, etc) para o sucesso de um produtor?


Mariana Pires - São absolutamente fundamentais. Desde que a comunicação social passou a mediar a sociedade é que os artistas ganharam maior visibilidade e notoriedade. Ter algum tipo de media trainning é indispensável para todos aqueles que trabalham como produtores, pois divulgar o artista e fazer com os que os espaços da mídia sejam ocupados da maneira mais adequada e proveitosa possível é uma tarefa da área de produção. Hoje, mais do que nunca, a divulgação – amparada por uma relação fluída e saudável com os veículos de comunicação – é uma ferramenta estratégica de extrema valia.


Mariana Ferreira - Importantíssimos, eu mesmo utilizo muito a internet para ficar informada, tirar duvidas e divulgar meus artistas. Tudo o que tiver como base a informação é fundamental para qualquer tipo de trabalho, principalmente para o nosso.


8- Como é a tua relação com outros produtores?


Mariana Pires - Muito boa. Só não é mais próxima pela falta de tempo que a correria do trabalho nos impõe.


Mariana Ferreira - Sou produtora de Luiz Marenco e Aluisio Rockembach. Nossa relação é fundamentalmente aberta e de muita confiança, pois sou eu quem mostra e divulga a todas as pessoas a maneira como eles devem ser vistos e a qualidade de seus trabalhos.


9- Deixe um recado final.

Mariana Pires - Meu recado se destina aquelas pessoas que tem interesse em trabalhar na área de eventos: ao contrário do que muitos erroneamente pensam, este trabalho requer tanta dedicação e tanta seriedade em sua execução quanto qualquer outro. Ou seja, não dá para confundir o ambiente festivo no qual muitas vezes trabalhamos com o trabalho. Profissionalismo, conduta adequada e atitudes sérias são pilares do qualquer atividade profissional, e este meio não se foge a regra.

Mariana Ferreira - Mensagens não são o meu forte, mas gosto muito destes dizeres de Raul Seixas e acho que simplifica bem o papel do produtor com seu artista... “ Um sonho que se sonha só, é só um sonho, mas o sonho que se sonha junto é realidade” ...

Nenhum comentário: