Chegamos a mais uma Semana Farroupilha. São 174 anos do 20 de setembro na Ponte da Azenha, em Porto Alegre e que acabou por marcar o início da conhecida guerra envolvendo gaúchos, em sua maioria integrantes da oligarquia rural (principalmente produtores de charque) contra o Império do Brasil, independente há 13 anos, por razões diversas como o abuso dos tributos e falta de incentivo à venda de seus produtos. Enfim, problemas que nos deixam irritados até os dias de hoje, já que nosso país tem a taxa de impostos mais alta do mundo.
Mas, deixamos um pouco de lado essa questão econômica, ou se era necessário um embate de tamanha grandeza para resolver isso, para falarmos de seus ideais. O general Netto era o mais entusiasmado com a possibilidade da criação de uma república separatista, como ele próprio acabou proclamando em 1836. Na atualidade, nossa cultura e nossas tradições cultivadas, que foram desenvolvidas bem depois da guerra, diferenciam o nosso estado dos demais e ainda nos assemelha ao Uruguai e à Argentina, de quem temos muitas influências no modo de ser. Também ouvimos piadinhas como “Santa Catarina é o melhor estado do Brasil porque nos separa do resto”. Estamos apresilhados ao Brasil apenas pelo fator político e econômico, porque em outros pontos, os próprios visitantes de outros estados comprovam: “parece que estou em outro país”.
Agora passamos a outro ponto. Não adianta uma pessoa que nasceu no Rio Grande dizer que não é gaúcha porque não gosta daqui ou não se identifica. Nasceu aqui, é gaúcho. Mas, outro fator é “sentir – se gaúcho”. Eu sou um deles, não sou e me sinto. Cultura e tradição são coisas completamente diferentes do que um adjetivo pátrio. São coisas que aprendemos a gostar por conta própria ou por influência de alguém. O campeiro tem mais facilidade, já que os costumes gaúchos fazem parte de seu cotidiano, mas podemos perfeitamente aliar isso com os recursos e possibilidades do urbano. Na cidade, se não temos condições de ser laçadores, ginetes, homens de lida; podemos fazer algo como tomar um mate e ouvir uma boa música nativista, participar de CTG, tocar um instrumento, etc.
Depois do grito de Netto, na Coxilha do Seival, veio a bandeira e mais tarde, seu brasão. O lema que estava estampado na tricolor hasteada era: liberdade, igualdade, fraternidade. Esse ideal prevalece apesar dos anos. Nós, gaúchos, nascidos aqui ou não, amantes da tradição e da cultura ou não, urbano e campeiro, devemos ser unidos, manter o sentimento de fraternidade que nos torna diferente dos outros. Devemos ser livres, pensar cada um da sua forma, cultivar aquilo que gosta, fazer o que deseja para comprovar que temos liberdade de expressão e opinião. Devemos nos tratar da mesma forma, ser igual nas diferenças e como diz na música Apenas Gaúcho: “se tem lugar pra todos, não briguemos entre nós”. Moramos aqui, somos iguais. O Rio Grande será cada vez melhor, se estivermos com o pensamento voltado ao antigo lema farroupilha. Ou seja, estaremos fortalecidos.
Agora, nessa próxima semana vou ver bom shows, dançar umas marcas em algum fandango e assistir a gauchada desfilando pelas ruas da cidade. Para mim, o gauchismo é diário, faz parte da minha vida. Para outros, essa semana é hora de tirar as bombachas do armário, com aquele cheiro forte de naftalina e também de passar um sebo nas botas. Mas, independente de ter ou não o sentimento gaúcho, vamos reverenciar esses homens, antecessores de nós na história, que tinham uma gana e um objetivo para viver cada um de seus dias. Vamos fazer a cada dia que passa, um Rio Grande que, se Netto, Bento e tantos outros que lutaram estivessem vivos hoje, ficariam felizes e satisfeitos de ver.
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