terça-feira, 30 de junho de 2009

Onde "meu canto" ganha vida

Dias atrás, publicamos uma entrevista referente ao CD "Meu canto - poemetos de campo" com o amadrinhador Silvério Barcelos. Apenas um poema, dividido em quatro partes, com a autoria de Eron Vaz Mattos. Desta vez, complementamos esse assunto com as palavras do declamador Xirú Antunes, que fala ao De terra, campo e galpão sobre esse trabalho, a sua importância e o que representa para a cultura gaúcha:

Xirú Antunes: declamador desta obra








Por João Cléber Caramez



1- Como foi a concepção deste trabalho intitulado "Meu canto - poemetos de campo"?


Ao ler a obra de Eron Vaz Mattos, Meu Canto, achei de vital importância para o Rio Grande do Sul. Trata de elementos que constituíram a personalidade do gaúcho que estão se deteriorando com o passar do tempo. Primeiramente, pelo desinteresse dos órgãos competentes responsáveis pela cultura no estado; segundo pela falta de leitura e de pesquisa da maioria dos jovens; terceiro porque gravando esta obra facilitaria seu entendimento e quarto, porque esta obra é uma referência de gauchismo, de sensibilidade terrunha, da personalidade do homem do campo.


2- Fale um pouco deste trabalho, como ele será desenvolvido e o que representa para a tua carreira?


É um trabalho que foi desenvolvido em quatro partes, cada uma delas trabalhada sensivelmente pelo Silvério, dando as características musicais expressivas necessárias e completas e tendo o aval da apresentação magnífica do poeta Sergio Carvalho Pereira que muito nos ajudou e apoiou neste trabalho. Um trabalho praticamente artesanal que é um marco pra mim, porque cada verso descrito me leva a muitas coisas que vivi nesta vida e em outras passadas. Além do mais, este trabalho me devolve a consciência do recitado que foi meu primeiro oficio.


3- Como será a divulgação, já que é bastante recente e como tu acreditas que as pessoas receberão este trabalho?



A divulgação será feita por nós mesmos, em eventos que participarmos. Pretendemos fazer três lançamentos importantes: em São Lourenço do Sul, Pelotas e Bagé e ainda em outros lugares que nos acolham. No más, é um trabalho para ficar. Acho que inicialmente as pessoas vão estranhar, porque a mídia dá importância hoje em dia a trabalhos mais turbulentos em que a poesia passa batida em que as melodias são alegres e bailáveis como eles costumam dizer. Sendo assim, as coisas são injetadas e as pessoas não pensam muito, nem se dão conta de que vivemos num mundo em que a cultura e a identidade estão sendo aos poucos subjugadas.

4- Tu acreditas que os poemas tem poucos espaços (locais, festivais) para serem apresentados porque a música é dominante?



Certamente. Tempo atrás, existiam diversos espaços para poesia, inclusive, diversos festivais. Hoje, podemos contar nos dedos. Não é que a música domine, mas é a cultura das pessoas que muitas vezes estão a frente de prefeituras, de eventos, e que preferem apostar em outro tipo de arte, exatamente por serem pessoas despreparadas que muitas vezes estão ali apenas politicamente.

5- Existe uma projeção para um eventual segundo trabalho entre essa parceria?



Sim, provavelmente faremos outros trabalhos neste estilo com o poeta Eron Vaz Mattos.

6- Como é a tua convivência com os teus parceiros Eron Vaz Mattos e Silvério Barcellos?



Muito boa. Obviamente, quem bebe da mesma fonte tem algo em comum e estas coisas aproximam as pessoas e as tornam bem relacionadas.

7- Tu acreditas que os "poemetos de campo" podem ser mais valorizados na mídia e que novos poetas e declamadores possam seguir os rastros de grandes ícones como Jayme Caetano Braun?



Acredito pela força dos versos, vai levar um bom tempo ainda. É um trabalho para ser visto com carinho e bastante calma. Uma expressão folclórica leva no mínimo trinta anos para se aculturar. Certamente que novos poetas e recitadores podem e devem seguir os caminhos de Jaime. Ele era um poeta que opinava e muito, esta era a grande característica dele, não ficar em cima do muro e assim que a coisa deve ser, porque como disse Noel, é um dever dos payadores falar o bem da verdade e se Deus deu este dom, é preciso também usar contra injustiças. Tem que existir também um papel social nisto tudo.

8- Conte um pouco para nós um pouco do teu sentimento ao escrever poemas e mais tarde, declamá-los. O que é necessário para ser um grande poeta e um grande declamador?



Um poema é uma forma de ver o mundo. Escrever é estar vivo, ter consciência do ser. E aqui nesta querência do sul, é estar de bem com os avós. Necessário para ser um grande poeta e declamador primeiramente é ter este dom, depois é saber cultivar com humildade e respeito as nossas raízes, preservar sem excessos nem agressividades e principalmente ter intimidade com a natureza.

9- Quais são as tuas principais fontes de inspiração para compor? Tu tens referências que influenciam no que escreves?



São elas as mesmas referências que me influenciam: o campo, os elementos que o compõem, suas peculiaridades. Muitas delas eu vi e fiz parte no segundo distrito de Piratini, quando era mais novo. Muitas destas coisas encontrei nas palavras dos poetas Osiris Rodriguez Castillo (uruguayo), Serafin Rota Garcia (uruguayo), Jaime Caetano Braun, Aureliano de Figueredo Pinto, Athaualpa Yupanqui(Argentino), entre outros. Enfim, o trabalho de pesquisa mesclado a minha vivência no campo junto ao meu dom, me deram a minha organização descritiva.

10- Deixe um chasque para aqueles que admiram os trabalhos poéticos como este e os teus contatos.



Primeiramente, agradecer a todos que de uma forma ou de outra admiram as coisas que faço, agradecer a ti pela atenção dispensada, meu fone é 5381187878, meu email é xiruantunes@hotmail.com, estou a disposição no que diz respeito a cultura das três pátrias, um abraço e gracias.

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